6h10, dia de peão começa cedo. É pão com requeijão, suco de melão. Pasta, escova e protetor solar. Hoje não tem tempo pra maquiagem, o sol lá fora já raiou. É agonia de estudante, são provas e provas e eu vivo assim. A correria do dia-a-dia, o suspense pro final da madrugada. Ensino médio, você acorda cedo pra ver gente que não suporta, mas abraça gente que não quer perder de vista. E eu acordo cedo, com preguiça, com os meus 5 minutinhos, que se estendem aos 15 minutinhos e então pulo e corro pra não perder a carona.
Respondo as questões, gabarito os testes e copio a prova de matemática, porque ninguém é obrigado a ser bom em tudo. Agradeço a Deus por ter me dado o dom da cópia do amigo-inteligente do lado. E plim! Eu estou com nota azul. Melhor que isso, só o professor achando que não fui eu quem copiei.
No apartamento novo eu conheci a vizinha nova, mal-comida ou nem-comida que insiste em dizer que a minha reforma rachou o espelho dela.
No trem, reencontrei um primo desconhecido, que sismou ser meu parente depois de algumas doses de aguardente. Pediu que eu fechasse seu caixão com uma garrafa de 51 que depois ele viria me buscar, mas eu disse que gostaria de ficar por mais um tempo. O silêncio pairava e a gente ria do nosso papo sem pé nem cabeça, de São Caetano até a Luz, descobrindo todos os lugares que aqueles olhos cansados já passaram; a história de cada dente que lhe faltava me fez querer reencontrá-lo e aceitar o chocolate que ele comprou pra mim de um ambulante no vagão. E todo mundo olhava, no reflexo do Sol das 14h o papo do velho que aos 13 anos veio da Bahia pra São Paulo e da uniformizada sem juízo.
Do metrô eu vi as rodovias interditadas e mais alguns olhos curiosos. Aquilo é tão sempre cheio, de gente, de olhos, de cheiros. Metrô é coisa pra gente forte, e você sabe quem é mais calejado. Tem os que fingem que dorme, os que usam fone de ouvido no último volume, os que realmente dormem, os que só pagaram a passagem, os com pressa, os perdidos, os achados e os sem perspectiva.
Eu amo o transporte público de São Paulo, de descer a estação da Luz, descer as escadas correndo pra não perder o Francisco Morato e ver que não está só, cada qual com o seu objetivo. Eu amo São Paulo. São Paulo é triste, é de verdade. São Paulo é lindo. Eu amo a Estação Tietê, dá uma vontade imensa de viajar por aí.
Ir à Bienal do Livro me faz acreditar que tudo o que eu já li não é nada perto do que existe. Mas existe pouca coisa boa também. Eu carrego as minhas sacolas e sorrio pro segurança.
Na fila da volta, um casal meloso. No ônibus da volta, o drama da esposa que comprou facas que não cortavam. No metrô da volta, o reencontro de duas mulheres que eu não faço a mínima idéia de quem são, mas se abraçaram e choraram e disseram que estavam com saudades e fizeram tudo isso bem no meio do metrô. No trem da volta, um apoio. No ônibus da volta, uma soneca.
Quando eu acho que acabou, quando os meus pés desesperadamente imploram por descanso, me olho no espelho. O salto pula pro pé. A maquiagem é rápida e a noite é longa.
Eu tenho essa mania adolescente de achar que não acabo, que sou imortal. Eu não canso, eu não durmo e melhor, eu não preciso! Hoje é sexta-feira e meu fígado está de folga. Quero um lanche natural com refri no Subway errado às 3h30 a.m. A música era boa e eu dancei no corredor sozinha para os funcionários. Meus amigos ficaram com vergonha, mas o que eu tinha a perder? Era só uma dança no Subway errado, com o molho 'levemente picante' que quase queimou a minha boca. E eles tiraram foto, e riram, e eu acho graça da minha graça que apareceu depois de uns longos meses, assim com o Sol que deu as caras por hoje.
Depois de muito tempo, antes de dormir eu arroto Coca-Cola e dormo agarradinha, o relógio não toca às 5h35!
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