Para sair da rotina fui tomar café em uma padaria conhecida perto de onde moro atualmente. Um apartamento maior, mais arejado, mais claro e que, quando levanto o Sol está todo iluminando o corredor, o que me dá uma vontade imensa de gritar ao vento o quanto eu agradeço a Deus por ter nascido.
Já na padaria, uma mesa com seus homens engravatados cantam parabéns para o aniversariante. Como de praxe, o nome do Carlão foi repetido juntamente com algumas palmas após a cantoria. A voz de alguns homens se sobressaía e eu imaginei se o desesperado estava esperando uma promoção do Carlão. Afinal, não há quem queira bater palmas para o chefe às 7h junto com colegas de trabalho que possivelmente no futuro lhe irão puxar o tapete. E o Carlão, hein? Em uma quinta-feira de manhã ele deveria ser acordado pela esposa no apartamento chiquérrimo em que moram, com mordidinhas na orelha. Ou, quem sabe, por uma garota de programa que faça isso por ele. Seria ele um homosexual? Mas até estes tem seus companheiros...
Da vida do Carlão eu não sei, mas um cinquentão inteiro como ele não deveria tomar café com seus supostos amigos, que mais pareciam urubus, no seu aniversário. E eu decidi que não quero isso para mim.
Eu nasci com essa merda de globalização que exige isso, exige aquilo e aquilo outro também. Me fazendo automaticamente a crescer sabendo das coisas que eu teria que ter e saber para ingressar no tão falado “mercado de trabalho”. E assim foi, estudei 8 anos de inglês, aprendi a usar o computador, me comunicar através da internet e a adotar posturas para determinadas situações.
Escolhi a vida perfeita. Mentalmente construí os meus próximos anos de vida e adaptei um ano inteiro de intercâmbio a eles. Ir para a Holanda como Au Pair era mais do que a idéia perfeita: Europa, trabalho, inglês, criança e dinheiro. E não teve conselho que me fez tirar o meu intercâmbio perfeito da cabeça.
Em um lindo sábado de sol, como diriam os Mamonas Assassinas, eu assisti um filme cujo nome é Taare Zaameen Par every child is especial. As imagens falaram mais do que palavras, e eu chorei, chorei, chorei, chorei e caí na real. Por que me afastar da minha família durante um ano inteiro? Talvez porque eu tenha sido tentada a acreditar que quanto melhor o meu currículo, melhor o trabalho que eu vou conseguir. Afinal, o que significa estar bem empregada? Usar salto e desfilar por uma transnacional em que meus colegas de trabalho sorriem esperando qualquer pequeno deslize para que eu escorregue ou usar aquilo que eu tenho de melhor para fazer alguma coisa que significa realmente?
Eu desisti da Holanda por um ano. Não desisti dos meus sonhos, eu apenas os modifiquei. Talvez eu faça algum intercâmbio mais curto e morra de saudade, mas eu optei por não ser o Carlão, que deve trabalhar demais para encontrar alguém para amar, ou até teve, mas não soube conciliar.
Obrigado Deus, por chacoalhar e abrir os meus olhos para aquilo que eu, por um capricho ou outro, não queria ver. Uma coisa é certa, nunca mais eu quero ver a minha irmã chorar por pensar que eu vou deixar de cobri-la e beijá-la pela manhã.
04 de novembro de 2010
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