sexta-feira, 8 de março de 2013

Boa noite, doutor.
Eu sei que a sala de espera está lotada. Que tem um monte de gente só querendo uma solução pra dor, ou um aviso de que não será a morte, desta vez. Eu sei que eu pareço perdida com esses cabelos soltos e pouco úmidos pela chuva, e pela sombrancelha sem fazer e unhas roídas até o máximo. Mas eu só preciso de um favor.
Fui à dois hospitais hoje na busca de um papel que me ateste o dia de hoje. Tomei duas injeções na bunda e qualquer coisa na veia do braço direito. Era dor de cabeça, garganta inflamada e boas pedras no meu ombro. Mas não foi o suficiente pra me liberarem das minhas obrigações pelo resto do dia de hoje. Não eram muitas, na verdade. Procurei os médicos depois sa aula, sou boa garota. Eu estava com muito sono, mas assisti minhas aulas na faculdade e em seguida avisei no trabalho que não iria.
O fato é que eu nem se quer almocei antes de buscar pela minha carta de alforria do trabalho de hoje. Eu sei que é sexta-feira, são oito da noite e você, sem dúvida, acha que eu vou partir pro centro da cidade e beber até cair, ou me drogar com qualquer coisa. Mas, sinto lhe dizer que não. Eu só não quis ir pro trabalho hoje. É covardia, me julgue por fugir das minhas obrigações, mas embora eu não tenha cara de garota pobre, preciso trabalhar pra pagar minha faculdade. Eu pago sozinha oitocentos mangos, já com minha bolsa de 50%, diga-se de passagem. A verdade é que eu estou sem estrutura mental pra sorrir 10h das 12 últimas da minha semana enquanto eu só desejo descansar pra ter mais disposição pra ler os mil artigos que tenho pra segunda-feira. Eu não posso deixar o serviço, mas não é possível concicliar minha vida acadêmica com a minha carteira assinada pela CLT.
Eu não tenho crise com ninguém no trabalho. Não faço o tipo que trabalha por hobby e de forma alguma tenho corpo mole. Trabalho horrores, se você quer saber. Estou chorando porque acho humilhante ter vinte anos e ter que passar por três hospitais em um só dia só pra me alforriar de um dia de trabalho. Eu estou mentalmente cansada do mundo pequeno que existe na cabeça das pessoas com quem trabalho. Sou funcionária pública e ninguém tem muitos planos quanto à carreira por la. Vou me demitir antes do segundo semestre desse ano. Te prometo. Quando o fizer, venho te avisar com uma caixa de um bombom que te agrade, só pelo infinito agradecimento de ter me ouvido até agora.
Acontece que trabalho até as 22h e o que eu tenho são só míseros atestados das horas que mendinguei por um "x" no campo "deverá permanecer em repouso no dia se hoje". Desculpe, mas eu não posso ser presa por isso não, né?
Enfim, trouxe os atestados todos, tenho as marcas das agulhas todas e gostaria de te pedir um mísero papel carimbado com sua assinatura dizendo que eu poderia relaxar meus músculos tensionados no dia de hoje.
Eu sou uma pessoa honesta, juro. Estudiosa. Nunca fiz isso antes e tô morrendo de medo de você fazer algo que me doa muito, como um bom tapa na cara de lição de moral. Mas eu não posso, sabe? Não posso simplesmente morrer pelo emprego que não me levará para lugar algum fora os consultórios médicos.
Desculpe, mais um vez... Não tenho mais nenhuma lamentação a fazer.

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