domingo, 10 de agosto de 2014

Pais não morrem. Pais não vão pro céu. Pais não abandonam os filhos.
Meu pai, dizem os outros, que morreu quando eu tinha cinco. Eu só lembro que eu escrevi uma cartinha e que o caixão estava fechado. Eu não pude dizer "tchau, papai". Só Deus sabe quando tempo eu esperei que alguém dissesse que era tudo uma brincadeira de mal gosto e que o caixão estava vazio e que papai voltaria no fim de semana. Eu esperei o meu pai me levar no Habibs da Afonsina por meses a fio. Eu esperei ele me buscar em casa pra ver meus avós. Passaram 16 anos e ele nunca veio. 
Quando eu me tornei adolescente eu queria ter um pai pra ser rebelde. Eu sempre quis ter um pai pra ter ciúme dos meninos com quem eu saí. Ou pra me levar pra fazer programa de menino. Quando eu fiz 15 anos eu desesperadamente quis um pai pra me acompanhar na valsa. Aos 18 eu queria tanto que ele tivesse me assistido ler o discurso de colação de grau do ensino médio. No dia que eu passei na Cásper Líbero, eu queria ter meu pai orgulhoso. Eu queria que ele tivesse carregado as malas quando eu voltei do meu primeiro intercâmbio. 
Mas pais não morrem, não vão pro céu e nem abandonam os filhos. O meu pai estava comigo no dia do seu próprio velório. Ele estava comigo em todas as pequenas conquistas. Ele deu um jeito em todos os garotos que partiram meu coração em pedaços. Dançou em minha festa de debutante, me aplaudiu na formatura, se divertiu comigo no primeiro trote da Cásper e estava comigo em todos os voos que eu peguei pro Canadá. 
Meu pai vive. Ele está aqui enquanto escrevo. Ele me protege, me cuida, me corrige. Meu pai está em meus pensamentos, está no meu coração. Meu pai mudou do mundo pra morar dentro da parte mais valiosa de mim. Meu pai nunca se foi, enquanto eu existir. Feliz dia dos pais, pai.

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