Tratado como um indigente, passo de mão em mão e vivo escondido nos mais variados lugares. Sou como um namorado, mas nunca fui apresentado para a família, pelo menos nunca do modo tradicional. Como na maior parte dos relacionamentos, sou apresentado por um amigo e num piscar de olhos estamos apaixonados.
Mesmo muito famoso nem todos me conhecem como deveriam, mas procuram saber o que lhes importa: "qual é o barato?" segundos depois sobe a fumaça. Fui fumado, mas não morri. Depois de fabricado, traficado e fumado agora estou aqui fazendo a cabeça de de mais um sem cabeça. Já vejo as lágrimas que serão derramadas por meu uso.
A maior parte dos meus usuários me procuram por uma sensação de alegria e poder momentâneos, alguns sabendo dos meus efeitos, outros nem querendo pensar. No fundo todos eles sabem que sustentar o vício não é fácil, mas insistem em tentar. Os jovens formam a maioria "É pra fugir, tio". E fugir de quê? A vida era muito mais difícil quando nasci.
Depois de algum tempo o meu uso é constante, cada vez mais e mais. O dinheiro fica escasso, a solução é furtar seja na rua ou em casa. Os delitos tornam-se casa vez maiores e euvejo um a um cavar a sua covadiariamente. Não pense que me orgulho, morro dia após dia também, mas estou são.
Já me vi algumas vezes no noticiário e, sinceramente, acho que são gentis. São muitas as acusações, buscam encontrar respostas e como proporcionar o fim. É aí que me questiono: por que me inventaram, então? Ser humano hipócrita! Afinal de contas, eu não me autocriei e depois quis me destruir.
De todas as coisas que vi, matar familiares por uma pedra foi a pior delas. Depois o indivíduo morre e eu fico com a culpa de tudo, quando na verdade sou eu a vítima de uso inadequado.
Por esse motivo encontro-me aqui hoje, Excelência, declarando-me inocente de todas as acusações, pois tenho vida curta e o corpo em que me encontro está quase em seu fim. Antes de ir gostaria de fazer um apelo: use-me se quiser, mas saiba fazê-lo com consciência. Cada homem é responsável por seus atos.
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