quinta-feira, 30 de junho de 2011

Embora os teus olhos não tenham visto, dia ou outro, vez ou outra, eu deixei que alguma lembrança sua fosse pra fora no meio de algum lixo qualquer. Em intervalos curtos, em intervalos longos foram embora todo o seu cheiro, os seus olhares, os seus toques. Em vários dias foram embora os seus bibelôs. Você até hoje tem certeza que eu ainda guardo até a lata de Coca-Cola, mas hoje - espero eu- ela já foi reciclada uma dezena de vezes. Eu a joguei fora. Assim como joguei janela a baixo todo e qualquer rastro teu. Com a maior classe.
Comecei pelos menores e gradativamente - lentamente também - me desfiz dos maiores e mais dolorosos , e consequentemente amados , detalhes seus. Dias sim, muitos dias não, dia sim, dia sim, dia sim, muitos muitos muitos dias não, dia sim e chegou ao fim. Nos 45 do segundo tempo me deparei com a maior, mais pesada, querida e amada parte sua: a que morava dentro de mim.
Ela, vendo-se nua, sem todos os detalhes, enfeites e fantasias que criei decidiu que iria por si só. Um coração agora muito habitado não haveria de abrigar tão sem graça criatura, que após ser despida de todas as minhas criações tornou-se comum demais para conviver em um local tão cheio de alegria.
Na calada da noite, durante meu longo sono, partiu. Virou as costas e de mãos vazias saiu sem nem se quer fechar a porta. Receio, talvez. Sem bilhete, sem choro, nem vela. A parte mais bonita, a qual doei a minha melhor acomodação foi-se embora sem drama. Preto no branco.

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