quinta-feira, 23 de junho de 2011

Eu encontrei a Inspiração em uma estrada semi-vazia, quase uma da manhã de uma quinta. Eu acelerei. Tudo o que queria fazer era matá-la. Matá-la por ter desaparecido há meses. Matá-la por me sufocar tanto tempo com o vazio não só das entrelinhas, mas também das linhas dos meus textos, que embora vinham tornando-se cada vez mais sem vida eram tudo o que eu tinha. Eu quis matar a Inspiração de beijos calorosos porque nunca antes nesta vida eu havia sentido tanto a falta de alguém.
Sem vergonha nenhuma, parada há alguns metros, ainda no alcance do farol para que eu pudesse decidir entre frear ou acelerar, ela sorria. Esbaforida como fiquei destranquei as portas e em meio a um olhar repreensivo pelo desaparecimento, mas muito gentil pelo amor a observei acomodar-se.
Nenhuma palavra e poucos segundos foram suficientes para enlouquecer a minha cabeça com as perguntas de todas as respostas. Com calma abri as janelas. Eu nunca desejara tanto o banco do passageiro ocupado. O vento frio deve ter me corado, uma hora dessas eu já era toda sentimentos outra vez e tudo o que eu precisava era um papel, uma caneta e talvez um copo de vinho.
O 24h mais perto e: 'Moço, uma caderneta e um lápis qualquer, por favor'. Embora tudo estivesse ficando claro eu ficava cada vez mais confusa.
- Por que tanto tempo, hein? - iniciei o diálogo com a pergunta principal, já me cansei das inúteis preliminares.
Uma pausa.
- Você precisava.
Eu precisava? Eu precisava ficar tantos dias e noites intermináveis sem conseguir montar uma frase decente? Eu precisava perder tudo o que me mantém em pé?
- Você precisava. - repetiu - Você precisava de um tempo pra você.
Pausa lenta e dramática.
- Você precisava parar de reclamar de amor. Precisava ver tantas outras coisas que caminham com você. Precisava valorizar. Rever conceitos. Escolher seu futuro.
Não ousei abrir minha boca.
Os tempos mudaram, os propósitos não são mais os mesmos e eu parei no tempo, desejando cada segundo que os velhos voltassem. Os dias passaram, os locais mudaram, as pessoas cresceram. Eu não vi nada, repito, não vi nada disso acontecer. Eu quero com toda a minha força que meus dias de glória voltem. Eu desejo isso a cada segundo, mesmo sabendo que não há possibilidade de sorrir do mesmo modo novamente.
A rotina me agarrou, agarrou e prendeu com força. Eu vivo do passado e só penso em um futuro pouco distante. Nada de presente, nada de presente. O que é esse presente? Eu não vejo nada tão alegre no agora como vi no meu ilustre passado e nem no meu tão sonhado futuro. Me roubaram de mim. Então: quem sou eu e o que fiz comigo mesma?
Raros segundos de lucidez enchergam a falsidade dos meus sorrisos, o cansaço dos meus ombros e a quase desistência dos meus pés.
- Antes que eu assuma a culpa, lhe imploro: fica! Eu não precisava desse tempo, eu ainda preciso. Mas fica, Inspiração, e devolve a minha vontade de viver. Me devolve pra mim.

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