A foto é clichê. Mas me deixa usar e abusar da minha câmera? Obrigado.
Eu adoro fotos. Sempre gostei dessa coisa de registrar momentos. Ainda mais quando eles não fazem total sentido. Essa é a janela do meu quarto. Estou nos quatro últimos minutos de uma segunda-feira punk. Trabalhei muito. Portanto, estou cansada. Na verdade, eu estou um pouco morta, mas sempre existe uma força extra pra manter os olhos abertos quando eu quero escrever.
Eu não escrevo sempre, mas janeiro é perdidamente inspirador. Sentada em frente à janela do meu quarto, que fica no décimo quarto andar do prédio mais alto do bairro mais alto da cidade em que moro. A vista é um tanto quanto privilegiada. Ontem tirei a rede de proteção que me impedia enxergar com maior expansão a vista da Avenida Paulista que tem daqui de cima. Eu acho que me apaixonei pela janela.
Eu estou há horas pensando em frente à ela. Em um momento no qual me dedico especialmente às redes de proteção. Eu tirei a literal, de cordas, e joguei fora ontem. Tenho me livrado de algumas outras também. Como o medo infinito que tenho de falhar de novo com a minha vida profissional. Eu não levo jeito pra nada, tirando as coisas que eu faço excepcionalmente bem. Não sei o que eu quero. Eu fui muito peituda quando desisti da melhor faculdade da América do Sul. Doeu. Dói muito. Não dá pra passar pela Gazeta e não pensar: "Caralho, eu desisti mesmo disso tudo?". Eu batalhei muito pela Cásper. Estudei exaustivamente, dias a fio. Mas nada paga o meu nome na lista de aprovados. Eu nunca me senti tão realizada em toda a minha vida, como quando me apresentei no primeiro dia de aula da Nanami. HAHA Foi ela mesma que me fez repensar se eu queria mesmo ser jornalista. Eu não queria. Mas eu tenho alguns problemas com metas: eu sempre as alcanço. Eu chorei horas a fio sentada no escadão mais famoso da Avenida Paulista no dia que cancelei minha matrícula. Eu senti tanto medo. Eu nunca quis ir embora. Mas não dava pra ficar. Eu não sei mentir pra mim. Eu fui embora e chorei calada muitos meses. Não dá pra descrever o quando dói desistir de uma coisa que eu almejei tanto conseguir. Foi punk. É punk. Eu acho que estou apavorada, com receio de falhar comigo de novo. Escolher uma profissão é demasiadamente complicado.
É janeiro. O meu mês predileto e eu estou dividida entre o medo e a realização que eu sinto pelos propósitos que alcancei. Gasto muito tempo pensando sobre tudo: casa, família, faculdade e trabalho. Eu sou intensamente responsável. Dou conta de coisas que até Deus levanta a sobrancelha quando vê. Mas eu sou intensa e eu preciso sentir. Eu preciso olhar pra casa gota do lado de fora da minha janela e pensar se eu quero mesmo estar em alguma das luzes desfocadas no fundo. Eu acho que não quero nada por enquanto. Pode ser? Eu só quero tirar umas fotos e escrever uns textos. Isso me faz mais feliz do que mil barras de ouro.
E, sabe, ainda tenho que lidar com pessoas inconvenientes que gastam tempo demais pensando no próprio umbigo. Gente que se acha esperta, que engana, que se faz. Eu não quero crescer pra ser assim. Estou um pouco cansada do ser humano. Principalmente dos que se escondem. Já dizia Rodox que quem tem coragem não finge. Eu pago rios de lágrimas salgadas por não fingir.
Eu não procuro solução em ninguém. Eu não deposito minhas frustrações nem sonhos em outro alguém. Eu só e simplesmente procuro algum lugar em que eu possa depositar aquilo de melhor que existe em mim. Uma vez me disseram que sou boa em tudo o que faço. E, na boa, não preciso ser modesta, porque é real. Tudo o que a minha mão toca, prospera. Pra glória do meu Deus vivo. Eu sou crente de que eu vou me achar, e até de que estou no caminho certo, entretanto é preciso dar uma pausa vez ou sempre pra refletir sobre os passos que dou.
Eu desisti da maior conquista que eu alcancei por mim mesma e só. Eu adiei pessoas que achei que fossem pra sempre. Mas eu nunca abri mão daquilo que eu carrego no mais profundo da minha alma. As desavenças terrenas podem me tirar tudo, mas nunca os meus sonhos, porque desses eu cuido à sete chaves.
Das redes de proteção que me livrei, como a dos meus olhos, que vez ou outra inevitavelmente se fecham pro óbvio, guardei algumas para o que valorizo.
Bons e direitos passos nunca levam ao caminho errado. Em tempo integral segui meu coração. Erro com frequência. Ainda bem. Mas tenho a mente aberta pra levantar a cabeça e assumir os passos tortos que dei. Estou começando uma caminhada nova, ainda que seja muito parecida com a antiga. Vou tentar outro curso, vou trocar de emprego e vou cuidar das preciosidades que tenho. As redes de proteção são muitas, mas nenhuma rede é tão protetora quando eu mesma. Eu cuido de mim, daqueles por quem prezo e o restante Deus me presenteia com conquista aos poucos.
As gotas permanecem na janela. O chão ainda está molhado. As coisas não mudam simplesmente porque eu quero, mas porque elas simplesmente precisam acontecer.
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